sexta-feira, 31 de julho de 2009

O Pai colonizado

por Sávio Sales

Os temas referentas à colonização são uns dos mais interessantes para estudo. O fato das ex-colônias não obedecerem às regras do contrato social e as variações das representações sociais, que num mesmo sujeito podem aparecer das mais variadas maneiras e até mesmo de maneiras antagônicas, faz-no pensar como pode se chegar a um entendimento de "identidade nacional" ou até mesmo se esta pode existir. Existindo, como tais sociedades podem se auto-regular a partir de tantas contradições? Percebemos como o tema é intrigante e portanto, estimulante. No entanto, como a figura paterna é pouco estudada, e pelo fato de ter forte relavância na formação de qualquer sociedade, após achar um artigo que resvala neste tema, procurei apresentar alguns pontos para reflexão e novas conclusões.

O psicanalista Roland Chemama em um artigo no livro "Psicanálise e Colonização", faz algumas colocações interessantes sobre a figura paterna nos países que outrora foram colonizados, tendo por base sua experiência na Tunísia - que até pouco tempo era uma colônia francesa. Segundo Chemama, os pais, nesses países, são, através de vários mecanismos, identificados com o sujeito subjugado (colonizado) em contraposiçào à figura do colonizador, que se apresenta como ideal. O filho ao se identificar com o colonizador passa a ter com o pai uma atitude de incompreensão quanto a maneira deste pensar e agir, e tal atitude se reflete em comportamentos antagônicos ao longo da vida.

Mas, essa adversidade não é total. Para o autor existe aí um fator importante nesse processo, que é o estebelecimento de uma clivagem entre identificação com o ideal (colonizador) e uma outra que se encontra no mundo materno, onde o pai real transita sem um lugar fixo. Essa clivagem irá ter reflexos quando na fase adulta o filho, agora já pai, lhe sendo negado o acesso real aos meios materiais e jurídicos do colonizador, abdica ou é forçado a abdicar de ser o suporte de identificação para com seu filho, que consequentemente repete o processo de busca de identificação com o colonizador - que sempre se oferece como ideal.

O autor não define precisamente quem é "o colonizador" mas, o que se pode perceber é que este não se apresenta como real, mas sim revestido de uma aura estética de um ser que manda, subjuga, impõe, delimita padrões e que pode se fazer representar nas roupas, filmes, títulos universitários, etc.

Ressalvando sempre as diversidades das mais variadas formas de colonização, que têm aspectos dissimétricos internos e externos, a conclusão a que chega Chemama é que nos países frutos da colonização, ocorre um processo de colonização sucessiva, ou mais precisamente uma "re-colonização" constante.






Sávio Sales é Psicólogo e Advogado

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