Há quinze meses das Eleições 2010, hoje falo acerca dos nomes de Omar/Alfredo/Serafim. Estas parcas notas surgem como um simples desdobramento de conversa que tive pela manhã no trabalho com um funcionário da segurança. Ao que pese não ser ele nenhum analista político, é figura do povo, e como todo conhecimento emana do sócius, chamou-me àtenção uma inesperada observação feita por ele.
Entre idas e vindas nos corredores de uma Casa que se convencionou por cerimônias, o que de fato é hoje a Assembléia Legislativa do Amazonas, dialogava com o segurança sobre o cenário do próximo pleito. Pensávamos juntos na possibilidade do arranca-rabo entre Omar e Alfredo como candidatos, visto que os dois são base do mesmo governo. Defendia eu, a plena possibilidade de termos os dois como candidatos sim, e o amigo segurança já achava isso difícil, visto que Edurado, influenciado por Lula, teria que optar por apenas um deles - à princípio o sinistro da soja e dos transportes, Alfredo Nascimento. Afirmava ainda o segurança, sua descrença na candidatura de Omar, eterno vice e notadamente fadado a fracassos eleitorais, mesmo quando empurrado goela abaixo da população. Porém, mal sabe ele, o segurança, que o narcisismo embrutece o ser e cega a razão, não sendo portanto, o eterno fracasso nem o embrutecimento de afectos suficientes para uma não-candidatura de Omar.
Lembrei-o ainda, que Omar será governador tão logo Eduardo se desemcompatibilize do cargo para a disputa do Senado. E isto, o poder da caneta e do orçamento em mãos, somado ao seu caráter extremamente egocêntrico pode lhe dar a sensação de ter asas maiores que as da realidade.
Enfim, em certo tempo concordávamos os dois sobre as duas possibilidades, até mesmo porque o jogo ainda está sendo jogado, os dados estão rolando. Agora, o que me trouxe surpresa foi quando desenhei um cenário entre Omar, Alfredo e... Serafim, na disputa a governo do estado. O segurança pulou e disse: "nããão, o Serafim vem pra Deputado Estadual!". Onde teria o amigo ouvido isso?! Perguntei-me. Já disse acima que não se trata de nenhum analista político, mas, achei-me na obrigação de um desdobramento desse dizer enquanto enunciado social. Então vejamos.
É sabido de todos a rejeição eleitoral com que Serafim disputou as últimas eleições. Fruto dentre outras coisas, do secretariado que ele próprio montou, da modus estritamente tecnocrático de lidar com política de massa, de estar cercado de incompetentes, etc. Mas também é sabido que durante o processo eleitoral essa rejeição diminuiu. Diminuindo muito ou pouco - não entrarei aqui neste debate, mesmo que já tenha firmado posição sobre isso - o fato é que numa disputa entre quatro candidatos, perdoem-me Navarro e Bessa, Serafim chegou em segundo lugar. Naquela conjuntura obteve x votos. Com esse número absoluto de votos, Serafim seria candidatíssimo a Deputado Federal, ao Senado, e lógico, a Governador. O que teria então feito o amigo segurança, figura do povo, pensar em Deputado Estadual? Das duas uma (ou as duas): ou o segurança não é nenhum pouco simpatizante de Serafim ou esse número não representa necessariamente, e nem de longe, a densidade eleitoral de Serafim Corrêa.
Lembro que ano passado, minutos após a apuração de segundo turno que decretou Amazonino como "novo" prefeito de Manaus, conversava justamente sobre isso com dois políticos (de mandato) do cenário político amazonense. Causou-me enorme espanto a ingenuidade explícita de ambos, ao defenderem que Serafim saía "fortalecido da eleição", afinal ele "saíra com x% de votos da capital, algo em torno de x mil eleitores como densidade eleitoral". Obviamente os meus caros amigos, por serem figuras de dentro do jogo, tinham uma visão comprometida e estavam enganados. O conceito de densidade eleitoral por eles aplicado era tal qual o que aplicaria um economista, formado na secura dos números.
O aporte filosófico do que vem a anunciar um numenum não é da ordem das ciências exatas, não se dá a apreender no plano ôntico. Numenum na verdade é algo que em-si não existe. Não existe na natureza. É sim um signo lingüístico, criado pelo ser da linguagem - a saber, o Homem - na tentativa de apreender um real fugidio. Ou seja, o número é nada mais, nada menos que, a expressão de uma subjetividade, não tendo por extensão, valor absoluto. Ora, meus caros amigos políticos, e tantos outros de dentro do campo de jogo, esquecem-se de analisar o conceito de subjetividade e por isso, não só, mas também, dificilmente encontraremos políticos que transcendam o plano ôntico das coisas. Aliás, no nível da política de hoje em dia isso é praticamente impossível. Mas aí, há de se dar um desconto, seria demais também, se todos os políticos tivessem este saber, eu perderia mercado de trabalho.
O fato é que, pasmem, "eleição" não se dá em números, estes já disse acima, não existem, são apenas expressão de algo d'outra ordem, e "densidade eleitoral" não é possivel ser medida em pleito de segundo turno. Este, desde o mecanismo da reeleição é, necessariamente, um plebiscito. D'outra sorte, e ainda mais importante é o fato de que as duas últimas eleições municipais, 2004 e 2008, foram o que chamo de "eleições conjecturais". Ou seja, quem ganhou a eleição de 2004, não foi o Serafim, os votos não foram dele. Mas sim de uma vontade de ruptura quem movia o inconsciente popular. E, por incrivel que pareça, o mesmo se deu na eleição de 2008 - eis uma grande proeza de Serafim. Não foi Amazonino quem venceu. A eleição de 2008 não teve vencedores! E nem poderia tê-los.
Sempre disse que essas duas eleições foram na verdade uma só, dividida em dois momentos. Infelizmente o azar foi de Manaus que não viu surgir nesse meio termo nenhuma nova liderança. Alias, parece-me esta uma boa temática para análises futuras: como surgir nova liderança em uma política velhaca e viciada? Difícil. Agora o mais incrivel é como os políticos não enxergam o vazio simbólico por que passa o imaginário popular, ninguém se habilita, é um marasmo só!
Voltando à densidade eleitoral, como neguei a importância dos dois últimos pleitos municipais de segundo turno, para melhor dialogar com o amigo segurança, seria coerente uma média das últimas três eleições em primeiro turno que Serafim disputou, sobretudo a de 2000, que a meu ver foi a mais diluída em discurso eleitoral - salvaguardado o fato de que naquela eleição ainda estava na disputa um Gilberto Mestrinho, que deixou orfãos eleitores hoje possuidores de um novo arranjo mental. Porém, reconheço que o mais correto após passado o momento eleitoral 2008, seria a utilização de pesquisa eleitoral. Pesquisa mista para ser mais exato. Qualitativa e quantitativa, sobre o "candidato" Serafim Corrêa. O problema é que para tal certeza estatística teríamos trabalho em encontrar um instituto de pesquisa sério, o que sabemos não existir em Manaus.
Enfim, em 2010, ao que tudo indica, será o primeiro pleito a não conter as figuras de, outrora monstros populistas do estado, Gilberto e Amazonino. Será decerto, um avanço para a democracia moderna. O imaginário popular certamente estará em busca de novos referenciais, e a certo modo orfão daquele tipo peculiar de liderança, exercida por aqueles velhos senhores. Uma boa análise antropológica da cultura provinciana baré deixará claro que este é um momento ímpar, e quem detiver esse entendimento e um bom conjunto de técnicas em Marketing 2.0, não tenho a menor dúvida em afirmar que sairá na frente.
Desdobro análise sobre "a cultura político-eleitoral amazonense a partir da figura do pai" em outro momento.
Abraços,
D.
terça-feira, 30 de junho de 2009
+ / - |
Notas sobre a política baré: Omar/Alfredo/Serafim |
segunda-feira, 8 de junho de 2009
+ / - |
O novo tom do PSDB: convergência |
Se há um jogo que nunca pára é justamente o político. O tabuleiro político está sempre em pleno movimento. Os jogadores observam, calculam, refazem estratégias, movem peças, tudo em busca de uma melhor posição junto ao poder, e com eleições a cada dois anos, não se enganem, é preciso jogar. É necessário jogar, pois, o preço pago por quem não joga é o ostracismo, é o esquecimento e o fracasso.
Desdobrando a máxima nietzschiana de que se você não está agindo, estão agindo por você, ou seja, se você não tá batendo, tá apanhando, vimos nessas últimas semanas quem vem jogando, quem deu as cartas e quem pegou uma boa mão nessa rodada, quem dominou o cenário político em maio.
A avaliação positiva do presidente Lula e o crescimento de Dilma em intenção de votos, são os referenciais políticos a moverem as peças do jogo. O PT não está pra brincadeira. Na periferia dessas pesquisas aparece, o que me chamou àtenção para os eventos subsequentes à divulgação, o pífio resultado de Aécio mostrado em um dos cenários propostos. Em cenário com ele sendo o candidato tucano à presidência, e com a presença de Ciro Gomes, Aécio ficaria nada mais nada menos que em quarto lugar na corrida presidêncial. Ficaria até mesmo atrás de Heloísa Helena, o que convenhamos seria pra fechar a casa. Pára tudo!
Aécio, prontamente, mostrou novo posicionamento e um discurso até então não dito pelo PSDB. Em entrevista à TV Brasil, semana passada, o Governador mineiro mostrou-se realista quanto a Serra ser o candidato "hoje com mais probabilidades" de ser indicado pelo seu partido, porém defendeu as prévias como modo de escolha.
A grande novidade foi quando perguntado sobre o cenário atual de pré-camapanha. Disse o tucano mineiro que "Dilma garantirá uma disputa de alto nível" pois, "ela é uma candidata à altura da democracia brasileira", numa clara tentativa de alimentar a divisão petista quanto à candidatura da ministra. Ainda afirmou que, aí vem o x da questão, seria um erro do PSDB apostar numa tentativa de "desconstrução" da imagem do presidente Lula, num tom estritamente de convergência, o mesmo utilizado pelo PT na campanha presidencial de 2002, em relação à política econômica do então governo FHC. Ainda em tom de convergência, Aécio fez elogios à atual política do governo, dizendo que o Governo Lula será lembrado pela história como o processo contínuo do Governo FHC pois, "foi lá que se iniciaram os programas de geração de renda. Veio o Governo Lula e, responsavelmente, manteve os parâmetros macroeconômicos e avançou nos programas sociais". Porém, criticou o modelo de gestão petista afirmando que "o governo virou às costas pra gestão, e passou a confiar na popularidade do governo Lula".
A verdade é que o discurso tucano precisa se renovar, recriar-se. E, recriar-se para além de momentos eleitoreiros. A soberba da verdade, do suposto saber, típico dos iluminados, já não cabe em uma conjuntura social de múltiplas linguagens. A diversidade de discursos e recortes sociais implica em constante reconstrução de si mesmo, quer sejamos indivíduos ou associações. O que vimos nesses últimos oito anos foi justamente o resultado dessa multiplicidade e diversificação: desde a eleição de um Lula, que é prova viva de como se reinventar constantemente, um verdadeiro monstro político, à metabolização de uma bandeira partidária de vinte anos de PT, que trocou a ética e o T de trabalhadores, pelo T de trambique e tramóia.
Na simples tentativa de se manter vivo no tabuleiro eleitoral Aécio, mesmo sem saber, talvez tenha prestado importante contribuição à história política brasileira. Apontou uma fissura no discurso [tucano]. Em termos clínicos diríamos mesmo que ele pontuou o discurso do outro, fez sacudir o analisando (vulgo paciente) de sua posição de conforto, deslocou seu olhar ao vazio do ser. Numa situação dessas é sabido que, ou o analisando [se] reconhece [na] a pontuação, ou nega! e escolhe permanecer preso ao sintoma - e cai novamente no circuito de gozo.
Esse seu simples ato pode ter como consequência o despertar do PSDB a um outro momento de sua história. E quem ganha com isso somos todos, é o Brasil. Veremos então, o que desse divã sairá e como ficará o tabuleiro pois, eis que ele se move, sempre!
Abraços,
D.