Lá se vão quase dez anos em que li Domenico de Masi pela primeira vez. Sua teoria do “Tempo Livre” chamou-me atenção de imediato. Eu, aluno iniciante do curso de Ciências Sociais, da Federal do Amazonas, via naquela sociologia do trabalho algo mais que uma teoria do trabalho. Na verdade o que De Masi fala é sobre o sujeito contemporâneo e seus impasses.
A partir da leitura de O Ócio Criativo podemos identificar o impasse desse sujeito contemporâneo ao criar algo, formas de relações sociais, para logo depois ser consumido por sua criatura. Pois o homem moderno cria a modernidade para em seguida se consumido por ela. Sim, o livro é mais que um tratado de sociologia do trabalho, como já falei. Fala sobre a velocidade com a qual o homem moderno constrói seu existir. Uma velocidade que lhe rouba sua própria essência enquanto humano.
Lembremos que o humano se fez humano na medida em que se sociabilizou. Uniu-se a outros seres de mesma espécie para lutar contra a força da natureza e melhor dominar o seu ambiente. Porém, na medida em que esse “humano” constrói sistemas que lhes melhoram e facilitam a vida, esses mesmos sistemas lhes afastam dos outros seres. Donde surge a pergunta, ou quase consequência lógica: será que está esse humano se desumanizando?
Por hora, não quero misturar esse raiz de pensamento com o niilismo Nietzschiano, em que nos fica bem claro o preço que o homem paga por ter se tornado “humano”, por ter traído a sua condição naturante e se voltado contra a natureza. Afinal para Nietzsche o grande mal do homem é ser humano, demasiado humano.
Porém, ao irromper neste caminho, o que me chama àtenção é essa desumanificação do homem contemporâneo ("pós-moderno", como diria Lyotard). O tipo de sociedade que esse humano construiu, a cada dia o afasta mais de si mesmo e do Outro como referência. E na tentativa de suprir sua falta existencial com a objetividade das coisas, deixa de lado a subjetividade das relações sociais. É muita parafernália, muito “combo”, muitos canais de TV à cabo, muita TV digital, etc. Muitas coisas superficiais para lhe ocupar o tempo. Um tempo livre que, voltando à De Masi, poderia ser aplicado em criatividade e afetividade.
Para o sociólogo italiano um dos grandes paradoxos da vida moderna é que somos educados, desde crianças, a uma vida estritamente voltado ao trabalho, esse trabalho asfixiante, de certa forma ainda industrial, ou no máximo pós-industrial. Passamos a vida inteira em escolas, colégios e faculdades que nos ensinam a apertar parafusos e nos mantermos dentro da caixa de possibilidades. Um trabalho ainda alienado, se pensarmos em Marx. Mas a verdade é que não somos educados para vivenciarmos a maior parte de nossas vidas, educados para o maior tempo que dispomos, para o nosso “tempo livre”.
Em um mundo em que cada vez mais o trabalho e as atividades de massa são robotizadas, e supridas através da tecnologia, o que fará o homem com o seu tempo livre, se não foi para isso educado? Como modificar formas-de-estar-no-mundo se nosso referencial ainda é o trabalho alienado, se vivemos imersos num corre-corre que nos tira o tempo livre? Como re-construir uma sociedade politizada, e politizante, se esta está imersa na alienação tecnológica e tecnocrática?
Como disse, é muita parafernália.
Abraços,
D.
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
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Tempo livre e o homem contemporâneo |
terça-feira, 1 de setembro de 2009
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Glândula timo e partidos políticos |
No meio do peito, atrás do esterno e colada ao coração, bem no local onde apontamos quando falamos "eu", existe uma glândula de importância vital para os seres humanos: a glândula timo. Nome de origem grega, thymus significa energia vital. A glândula era até pouco tempo negligenciada pela medicina, e desconhecida de muitos, e tem características de crescer quando estamos contentes, e murchar quando estressados, e mais ainda quando adoecemos. Por sempre ter sido estudada em autópsias era encontrada em tamanho bem diminuto, fazendo a medicina de décadas passadas supor que a glândula atrofiava na adolescência.
Mas por entre tantas funções, quero destacar aqui uma em especial: a glândula timo é responsável pelo registro genético de nossas células, sendo um dos pilares de nosso sistema imunológico. É nela que se produz a "célula T", uma célula que ao passar pelo timo recebe nosso registro de identidade genética. De posse desse registro, a "célula T" assume a missão de identificar "corpos estranhos" no organismo, invasores, vírus, etc. Então, ao encontrá-los, argui-los e, se for o caso, acionar os mecanismos de defesa do organismo contra aquele invasor.
Acontece que, mais importante é o fato de ser a célula T responsável por nossa, digamos que, "evolução" biológica. Ao que pese o viés biologicista, não muito a mim peculiar, o exemplo aqui é salutar, pois, o que vem a ser um "corpo estranho", um "invasor" em um sistema, senão algo que nos força a mudanças?
Imaginem vocês agora um diálogo entre uma célula T e um "invasor". A célula T, de posse da identidade genética do indivíduo, diz: "Auto, quem é você? Você não é um dos nossos! Retire-se ou chamarei os leucócitos". Eis que "o invasor" responde: "Calma companheira! Não sou um simples invasor. Sou um mensageiro. E vim lhes dizer que o mundo lá fora é diferente. Se vocês não se adaptarem, morrerão".
Pronto! Está posta a evolução biológica do ser humano - um simples caso de adaptabilidade ao meio. A verdade é que não são [só] os "mais fortes que sobrevivem", mas sim os "mais aptos". Adaptar-se é a regra número um dos seres humanos.
Escrevo isto ao acabar de rever um programa televisivo da ManagemenTV sobre a empresa de consultoria Thymus Branding, consultoria estratégica, e também empolgado com a leitura do livro recém adquirido "A Estratégia de Barack Obama", em que os autores detalham pontos da estratégia vitoriosa de Campanha Eleitoral à presidência de Obama. E ao ler e ter contato com este tipo de material, cada vez tenho mais a convicção de que a política está mudando. Aliás, já mudou! A eleição de Obama é marco divisor. Isto é fato! Política é algo profissional, cada vez mais profissional. A cada dia que passa tem um livro novo a ser lido, uma análise a ser feita, uma estratégia a ser lançada, metas, planejamento, internet, interatividade, webTV, etc. Tudo, exatamente tudo em política esta sendo profissionalizado. A política velha está cheia de "corpos estranhos". Quem não se adaptar, ficará para trás.
Penso então que, é chegada a hora dos partidos políticos, e demais instituições políticas, colocarem sua glândula timo pra funcionar, e reconhcerem como o "meio externo" mudou, como a sociedade mudou - para mudarem junto, adaptarem-se, tornarem-se definitivamente "aptos", pois que "só os mais aptos sobrevivem".
Mas por entre tantas funções, quero destacar aqui uma em especial: a glândula timo é responsável pelo registro genético de nossas células, sendo um dos pilares de nosso sistema imunológico. É nela que se produz a "célula T", uma célula que ao passar pelo timo recebe nosso registro de identidade genética. De posse desse registro, a "célula T" assume a missão de identificar "corpos estranhos" no organismo, invasores, vírus, etc. Então, ao encontrá-los, argui-los e, se for o caso, acionar os mecanismos de defesa do organismo contra aquele invasor.
Acontece que, mais importante é o fato de ser a célula T responsável por nossa, digamos que, "evolução" biológica. Ao que pese o viés biologicista, não muito a mim peculiar, o exemplo aqui é salutar, pois, o que vem a ser um "corpo estranho", um "invasor" em um sistema, senão algo que nos força a mudanças?
Imaginem vocês agora um diálogo entre uma célula T e um "invasor". A célula T, de posse da identidade genética do indivíduo, diz: "Auto, quem é você? Você não é um dos nossos! Retire-se ou chamarei os leucócitos". Eis que "o invasor" responde: "Calma companheira! Não sou um simples invasor. Sou um mensageiro. E vim lhes dizer que o mundo lá fora é diferente. Se vocês não se adaptarem, morrerão".
Pronto! Está posta a evolução biológica do ser humano - um simples caso de adaptabilidade ao meio. A verdade é que não são [só] os "mais fortes que sobrevivem", mas sim os "mais aptos". Adaptar-se é a regra número um dos seres humanos.
Escrevo isto ao acabar de rever um programa televisivo da ManagemenTV sobre a empresa de consultoria Thymus Branding, consultoria estratégica, e também empolgado com a leitura do livro recém adquirido "A Estratégia de Barack Obama", em que os autores detalham pontos da estratégia vitoriosa de Campanha Eleitoral à presidência de Obama. E ao ler e ter contato com este tipo de material, cada vez tenho mais a convicção de que a política está mudando. Aliás, já mudou! A eleição de Obama é marco divisor. Isto é fato! Política é algo profissional, cada vez mais profissional. A cada dia que passa tem um livro novo a ser lido, uma análise a ser feita, uma estratégia a ser lançada, metas, planejamento, internet, interatividade, webTV, etc. Tudo, exatamente tudo em política esta sendo profissionalizado. A política velha está cheia de "corpos estranhos". Quem não se adaptar, ficará para trás.
Penso então que, é chegada a hora dos partidos políticos, e demais instituições políticas, colocarem sua glândula timo pra funcionar, e reconhcerem como o "meio externo" mudou, como a sociedade mudou - para mudarem junto, adaptarem-se, tornarem-se definitivamente "aptos", pois que "só os mais aptos sobrevivem".
Abraços,
D.