sábado, 4 de julho de 2009

"Chega de leseira! Ferrovias Já!"

por Mario Santana

Na segunda metade do século XIX, a América do Norte, sentindo a necessidade de expandir racionalmente o seu desenvolvimento socioeconômico por todo o país, iniciou a construção daquela que foi, indubitavelmente, uma das obras mais importantes no que se refere à unidade nacional: a ferrovia Union Pacific. Seguramente é do conhecimento de todos, o papel que essa ferrovia exerceu na integração e modernização daquela nação. Não mais que cinco anos bastaram para que os norte americanos (com o apoio maciço de trabalhadores chineses) construíssem, em plena guerra da Secessão, mais de 5 mil km de ferrovias unindo a Costa Leste à Costa Oeste dos EEUU. Isto tudo, transpondo obstáculos como pântanos, desertos, subindo e/ou atravessando montanhas, enfrentando nevascas, etc.

Este exórdio faz-se necessário, para demonstrar que não existem dificuldades construtivas em implantar ferrovias no Amazonas, já que há mais de 140 anos, sem a tecnologia que existe hoje, os nossos irmãos do norte uniram o Leste ao Oeste dos EEUU através de ferrovia. Hoje a Union Pacific oferece serviço competitivo de transporte à longa distância e diversificado, que inclui produtos agrícolas, automotivos, químicos, energéticos, industriais e um serviço intermodal integrado com a rodovia e a navegação fluvial e lacustre.

Agora os fatos. Acredito que, todos os amazonenses natos ou aqueles que aqui estão radicados, desejam o desenvolvimento desta região. Tomo isto como um axioma. Sabemos que um ponto básico no desenvolvimento, é diminuir distâncias e custos de transporte, que oneram consideravelmente os produtos do PIM, até chegarem ao mercado consumidor. É necessário, portanto, criar vias de transporte para suprir essa deficiência, certo ? Mas, por que só se pensa em rodovia?

O Amazonas tem que ser pensado de uma maneira insólita, visto que é um mundo praticamente desconhecido e único no planeta. Como não pensar em proteger a biodiversidade da região? Como não pensar em proteger todo um bioma que ainda não foi detectado no seio da floresta? Como não pensar em proteger ¨o povo da floresta¨? Como não pensar no desmatamento, na desertificação, na poluição do ar, dos rios e lagos? Como não pensar no futuro do planeta? Esse é um problema de todos nós, jovens, adultos e idosos, que estamos prestes a legar ao futuro, um planeta condenado à morte.

Um mínimo de raciocínio nos levará a debater com seriedade, com ética e com honestidade de propósitos sobre o modal de transporte que menos venha a atingir a integridade da floresta amazônica. Não me venham acenar com a grossa mentira de que as Zonas de Proteção irão impedir a devastação do meio ambiente. A BR-163, Cuiabá-Santarém, está aí para demonstrar a ineficácia dessas Zonas de Preservação Ambiental. No entorno da rodovia, somente na Floresta Nacional do Jamanxim, foram dizimados em três anos, cerca de nove mil e duzentos hectares de floresta virgem em razão de estradas clandestinas, retirada ilegal de madeira e incêndios. Cadê a proteção?

Por que ferrovias? Existe uma literatura infindável nos meios científicos, defendendo esse modal de transporte, cujo argumento mais incisivo é, acredito eu, o que menos violenta o meio ambiente. Outros argumentos, como a necessidade de proteção constante por toda a extensão das rodovias, o alto índice pluviométrico da região que acabará com o capeamento asfáltico a cada seis meses (como conseguir verbas para a recuperação?), a poluição oriunda do número de carros e caminhões que por ali trafegarem, etc., também são importantes no contexto que aponta para a reprovação do modal rodoviário na floresta amazônica.

Já está se esgotando o prazo para as sociedades civis constituídas, universidades- corpo discente e docente, os políticos, os sindicatos, a imprensa não comprometida, as igrejas, organizações não governamentais, os formadores de opinião, entre outros que atuam em nosso estado, formarem uma cadeia de ações impactantes no sentido de colocar o modal ferroviário no cerne da discussão para a escolha do melhor meio de transporte a ser usado no coração da maior biodiversidade tropical do planeta. Chega de leseira!

Mario Santana

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