Domingo próximo, dia 31, a FIFA escolhe as 12 subsedes brasileiras na Copa de 2014. Nossa querida capital baré concorre com Belém ao posto de subsede da Região Norte e em torno dessa questão inúmeros debates já se arrastam entre amazonenses e paraenses.
Um vez já decidido pela FIFA que a Copa será mesmo no Brasil, e com uma subsede no Norte, Inês é morta, não dá mais pra empurrar esse pepino pro Suriname, Guiana ou Venezuela. Resta-nos agora contabilizar os mortos e ver quem vai carregar os corpos: Manaus ou Belém.
Sobre a escolha em si, vejamos o seguinte: se o “critério técnico” fosse preponderante não se justificaria uma copa na África do Sul, nem mesmo a dobradinha Japão/Coréia como em 2002. Como não o é, concluimos que até mesmo Cucuí, no extremo norte amazonense poderia ser subsede da Copa em 2014. Imaginem uma Copa em Cucuí! Seria uma maravilha.
Se fosse “infra-instrutura”, Manaus e Belém nem deveriam concorrer. As duas cidades são assim, quase um primeiro mundo! em transporte coletivo, saúde, educação, segurança, hotelaria, etc. Em Manaus, por exemplo, já temos funcionando o “Metrô de superfície” e a “Nova Veneza” do ex-prefeito e atual sinistro da soja e dos transportes Alfredo Nascimento.
Estado por Estado, o concorrente Pará é claramente campeão em desmatamento da floresta amazônica e campeão de violência rural com suas grilagens e embates por terra, sua capital é notadamente conhecida pela violência urbana e sujeira. Já no Amazonas, é a festa que conhecemos de perto: governo corrupto, crime organizado, prefeito cassado, ministro processado, etc. Esta disputa me parece muito com o pleito 2008, eleições à Prefeitura de Manaus: três péssimas alternativas. Assim, entre Manaus e Belém, melhor seria nenhuma das duas, mas...
Ora, por apelo social, temos que a população das duas cidades, obviamente quer a Copa, afinal não é toda vez na vida que se tem a oportunidade de presenciar, assistir de perto a um clássico entre Burkina Fasso vs Papua-Nova Guiné, ou a um espetacular jogo de primeira fase entre Ilhas Faroe vs Trinidad e Tobago.
Lembremos, e isto é fato, que a Copa do Mundo de Futebol é disputada em 8 grupos de 4 times, portanto 8 cidades são o suficiente para acomodar o evento. Normalmente, vinha-se fazendo com 8 a 9 cidades, a exceção da Copa Japão/Korea (20 cidades) e da Alemanha (12 cidades). Ora, em 2002, justificava-se o uso de 20 cidades afinal o evento era em dois países. Já em 2006, na Alemanha, nem é preciso comentar o tamanho em extensão daquele país. Em um espirro você o cruza de trem norte a sul, leste a oeste.
Acontece, e isso também é fato, que em se tratando de 12, repito 12 cidades, nossa querida subsede do Norte (Manaus ou Belém) acomodará 3 ou, se muito, 4 partidas. Isto é fato! E partidas daquelas, do mais alto nível técnico como já mencionei, algo do tipo: Chipre vs Ilhas Maldívas. Agora imagine você, vooocê aí mesmo! gastando 1200 reais pra assistir de arquibancada, um clássico como esses! Lindo, não?!
Pois bem, comentários à parte entro na questão em si! O fato é que a escolha é POLÍTICA, e obviamente ECONÔMICA.
Um evento como esses consome bilhões e bilhões de dólares. A Alemanha, por exemplo, gastou 12 bilhões de dólares para sediar a Copa de 2006 – 0,34% do seu PIB daquele ano. Aqui em terras tupiniquins, o Pan RIO 2007 custou 3,7 bilhões de reais.
Em Carta Capital (ano XV, no 535) ao final de 2007, o Diretor Financeiro do Comite Organizador da Copa 2014, Carlos Langoni, apresentou orçamento preliminar de custos da Copa na casa dos 6 bilhões de dólares, pouco mais de 12 bilhões de reais.
Já segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas (dados divulgados em janeiro 2009), a Copa 2014 está com orçamento em torno de 35 bilhões de reais, sendo este valor somente no quesito “gastos públicos”. Porém, em estudo oficial, para auxiliar as cidades candidatas, conforme Termo de Cooperação assinado entre CBF e Ministérios dos Esportes, a Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústria de Base (Abdib), elaborou estudo de infraestrutura nas cidades candidatas e estimou um valor de 100 bilhões de reais, somente em infraestrutura, ou seja, sem contar estádios, como custo para a Copa 2014 (reportagem Carta Capital, ano XV, no 535).
Sobriamente, à luz da razão, já nos caberiam inúmeras perguntas sobre a realização da Copa. Com esse desencontro de números, estudos e orçamentos - em pouco mais de um ano, o orçamento, a partir de três estudos diferentes, já subiu de 12 para 100 bilhões de reais - então nos cabe perguntar a quem interessa um evento como esses? A que grupos interessam a Copa? Quem lucraria com isso? E trazendo essas indagações pra cá, a quem interessa a Copa em Manaus? Quais grupos, ou quem lucrará com essa epopéia? O manauara que pagará em média 500 dólares para assistir Burkina Fasso vs Papua Nova Guiné? Certamente não!
Há quem diga, porém, movido a romantismo ou ingenuidade, ou ainda por pura ignorância, que um evento desse porte traria resultados a cidade como um todo, em infra-estrutura e qualidade de vida. Agora, infra-estrutura e qualidade de vida a que preço? E qual é a infra-estrutura que vale 6 bilhões de reais (valor orçado pelo Governo do Estado para a Copa 2014 em Manaus)?
Estes generosos six billions, lembro que é o orçamento inicial, e se levarmos em conta a cultura do brasileiro, um sujeito altamente planejador, técnico, eficaz e sobretudo, honesto quanto ao dinheiro público, certamente este valor será maior. O caso dos Jogos Pan-americanos RIO 2007 é exemplar. No Pan do Rio o evento todo foi orçado em 412 milhões de reais. O custo final foi de 3,7 billhões! Nove vezes o valor inicial e com o Governo Federal entrando em socorro no aditivo orçamentário para garantir a realização do jogos.
A esta simples análise de gastos e orçamentos (furados) agrava-se o fato da dispensa de licitação para serviços já realizados em nome da COPA 2014, como os de publicidade e projetos para candidatura de cidades sedes. A Edição dominical de A Folha de São Paulo, de 18 de janeiro deste ano, em matéria assinada pelos jornalistas Felipe Bächtold e Matheus Pichonelli, da Agência Folha, publica o que chamou de a ”farra do milhão”. Trabalhos, executados sem licitação, por empresas privadas de consultoria e projetos foram realizados pelos governos estaduais em cidades como Manaus, Salvador, Rio Branco, Cuiabá, Belém, Goiânia e Natal. Duas multinacionais de consultoria, Price Waterhouse e Deloitte (esta última contratada pelo Governo do Amazonas), embolsaram juntas mais de 5 milhões de reais. Os governos, lembro, dispensaram licitação.
A verdade é que o Brasil não está preparado pra um evento deste porte. Nem seu povo, nem seus dirigentes esportivos, muito menos seus políticos! Falta-nos cultura e seriedade! Falta-nos respeito ao bem público! A Copa não será dos brasileiros. Não será da dona Maria, do Seu João, do Pedro, do Zeca, do Francisco, etc. Mas a conta sim! Enquanto houver “Mensalão”, “Obras Fantasmas no Alto Solimões”, Crime Organizado em Coari”, “Escândalo das Passagens aéreas”, “Verba Indenizatória”, “PTbrás”, etc. o Brasil não pode se dar ao luxo de Copas e Olimpíadas.
Enfim, uma Copa no Brasil é um luxo num país de favelados! É uma afronta aos desabrigados! É desrespeito aos que passam fome! É um desrespeito às viúvas de policiais mortos em combate ao tráfico! É um crime contra as crianças cardiopatas sem tratamento! É crime às crianças sem escola! É crime contra aos que nem nasceram! Sim, palavra melhor não me vem à mente: CRIME. Uma Copa no Brasil é, decerto, um crime!
E nem vou comentar sobre a escolha de um Paulo Coelho como “o ícone cultural brasileiro”.
Se hay corrupción, soy contra !
Abraços.
D.
terça-feira, 26 de maio de 2009
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Manaus COPA 2014. Soy contra! |
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Mãe de Rafael procura Governador |
A vida é um grande teatro em que nós representamos a nós mesmos. Papéis sociais se acumulam em nosso camarim e a toda sorte nos desdobramos para bem representá-los. Somos sempre “bons filhos”, “bons pais”, “boas esposas” etc. Quem nunca ouviu a famosa frase “mas ele era uma pessoa de bem”? Sim, um papel social bem representado atinge não só a nós mesmos mas, sobretudo à sociedade, afinal este é o objetivo, visto que nos constituímos a partir do olhar do outro.
Porém, não somos tão bons atores assim! Sempre surge algum imprevisto, algo fora do script, que requer a sempre bem vinda capacidade do improviso, e aí nem todos dispõem de tanta habilidade. Nossa capacidade de representar tem um limite, social e, sobretudo, pessoal. É um fardo às vezes muito pesado para pessoas comuns, a maioria de nós, que representa inconscientemente, sem dolo. Há entretanto, quem represente de forma dolosa, é claro! no que seria a representação da representação. Mas isso é outro assunto.
Nesses momentos, de fissura do roteiro, é que vemos quem é quem. É aí que cai o véu, cai a máscara. A representação não sustenta mais o inconsciente e nos deparamos com o fenômeno do real, cru à nossa frente. Nenhum de nós suporta um encontro consigo mesmo, nem por um segundo sequer - daí a farta oferta de mecanismos de alienação que a cultura de massa nos oferece.
O fato é que Rafael Souza, filho do Deputado Estadual Wallace Souza, continua preso. As acusações são tão graves, inclusive envolvendo o Deputado Wallace, que já se cogita sua transferência a um presídio de segurança máxima no Paraná.
Sem saber que isto pode salvar a vida de Rafael, sua Mãe, em um ato de desespero, daqueles em que cai o véu e o real se mostra com todo seu vigor, procurou o Governador do Amazonas, senhor Eduardo Braga, para que este interviesse na questão. Noticiário local informa que ela chegou até mesmo a perseguir o carro do Governador na tentativa de forçar um encontro.
Esta senhora não suportou o seu real, não suportou o momento em que o script lhe faltou, não deu conta de sua própria representação. O véu caiu, a máscara já não lhe serve mais. A saída encontrada foi a mesma que todos fazemos uso, o DELÍRIO. Ora, bem sabemos que o delírio é construtivo, é algo até mesmo bem vindo pra reconstituir o sujeito. Mas em um mundo em que o papel social é imperativo, a representação sempre falará mais alto, e a todos sempre será preferido não encarar suas próprias falhas, e seus fantasmas.
O problema é que em seu delírio ela acaba implicando outros que a cercam, e a sua simples ida ao Governador pode-nos indicar muito mais que palavras.
Abraços.
D.
quinta-feira, 21 de maio de 2009
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Caso Rafael denuncia fracasso da instituição paterna. |
Rafael Souza, filho do Deputado Estadual Amazonense Wallace Souza, foi preso, mais uma vez, acusado de ser integrante de organização criminosa. Tráfico de drogas, tráfico de armas, formação de quadrilha, grupo de extermínio, são apenas algumas das acusações que pairam sobre este rapaz. As investigações, iniciadas pela PF no ano passado ainda indicam o mais grave: o possível envolvimento do próprio pai de Rafael, o Deputado Wallace Souza, como suposto comandante da tal organização criminosa.
Ao que pese a gravidade do fato aos olhos de uma análise política das instituições e do próprio Estado democrático de direito, afinal, trata-se de um Deputado Estadual, legítimo representante popular, postergo a outro momento comentários nesta linha de pensamento e aqui visualizo a relação pai/filho.
Em psicanálise, o que no título chamei de “instituição paterna”, na verdade é a tão elementar contribuição lacaniana “Metáfora Paterna”.
Imaginem que os pensamentos postos à humanidade por Freud e Lacan, visam a uma Teoria do Sujeito. Um sujeito nascido a partir de desejos alheios, afinal, de início ele nada é, e que ao nascer terá como referências imediatas seus genitores, ou quem socialmente presentificar esta função.
Pois bem, este "sujeito", um quase-nada, na verdade um "bolo de carne", inicia seu existir como uma extensão do corpo da mãe. Uma parte gozosa da mãe. Um canal de afectos e perceptos que a mãe se apropria como sendo "seu", o seu próprio corpo. Não há divisibilidade entre o "bolo de carne", romanticamente chamado de bebê, neném, coisa linda, etc. e a mãe. Há aí um momento e estado de plena indivisibilidade mãe/bebê, o sujeito está em completa ALIENAÇÃO no desejo da mãe.
Eis que entra em cena o Pai, a figura paterna. À medida que esse pai se insere na relação mãe/bebê, uma cadeia de novas outras significações passa a ser ofertada ao bebê. O mundo que antes era constituído somente pelo desejo da mãe, agora passa a ter novos elementos. Esta seria, em suma, a grande função paterna, a de proporcionar à criança um novo acesso à linguagem e novas significações do seu próprio existir. Ao pai, então pode-se dizer que, cabe a sublime função de convidar a criança a vivencia a vida, de mostrar a partir da linguagem o quão belo é o existir humano e as inúmeras possibilidades de vivenciá-lo.
O que acontece, é que às vezes essa função paterna não cinge da forma correta a relação mãe/bebê, não desloca o sujeito ao mundo simbólico, não oferta outros significantes ou outras cadeias de possibilidades para que o bebê tenha condições de se constituir enquanto sujeito, autônomo do seu próprio existir. Refém de uma mãe dominadora, de um desejo sufocante, e carente de um pai ausente, a criança entra num beco sem saída. Ou fica alienado no desejo da mãe, uma mãe quase sempre dominadora e sufocante, ou passa de todas as formas a tentar seduzir o pai, numa posição quase histérica, fazendo de tudo pela sensação de tê-lo consigo, ou passa a vida à deriva, sem referenciais firmes que lhe sustentem o existir.
O que acontece hoje, é que, numa sociedade fragmentada, de uma multiplicidade de discursos, o fracasso dessa função paterna é sempre mais recorrente. O pai-real é ausente, ou inoperante, e o pai-simbólico é fracassado. A criança fica literalmente sem referências, e exposta a todo bombardeio da cultura de massa, preso ao beco sem saída a que me referi há pouco.
Não raro encontramos casos de pais que ao longo de suas vidas não resolveram suas questões existenciais, ou seja, não resolveram seu Édipo, como se fala no linguajar clínico, e transferem aos filhos toda a carga de afectos e perceptos repreendidos por anos, como se inconscientemente os filhos representassem a forma de se resolver a questão. Aos pais... ? Bem, estes estão tranqüilos, pois, como esta transferência dá-se a nível inconsciente, eles não percebem. Porém são aos filhos que o estrago é feito ...
Ressalto porém, que quando se fala em “ausência”, “figura paterna” ou mesmo de “pai”, aqui não tratamos do “pai-real”, de carne e osso, o pai propriamente dito, mas sim de uma função, uma função simbólica, do “pai-simbólico”. Aquele algo que nos traz novos significantes, uma nova linguagem, aquilo que nos possibilita vivenciar novos acontecimentos que não o estar no colo da mamãe, aquilo que nos dá liberdade, mas que ao mesmo tempo nos causa pavor (respeito) quando a alguma travessura ouve-se da cozinha um “meniiiino, desce já daí, eu vou falar pro teu pai”. Esse é o pai-simbólico, o que liberta e o que interdita ao mesmo tempo, mas, sobretudo o que a partir desta ambivalência permite ao bebê/criança se constituir enquanto sujeito autônomo.
Aos que conhecem a teoria psicanalítica, sabem muito bem qual estrutura se constitui da “foraclusão do Nome-do-Pai”, porém não é nossa intenção aqui nenhuma abordagem clínica. Sabemos que não seria cabível, muito menos aceitável. D'outra sorte, tocar no sujeito da cultura, na relação de fragmentação do ser diante ao vazio da pós-modernidade, isto sim, é possível, e é a este desdobramento que nos propomos.
Continuo este assunto no artigo “Filhos órfãos de pais vivos”. Abraços.
D.
terça-feira, 19 de maio de 2009
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Um novo começo |
Amigos, reabrimos uma nova etapa na construção perene de nossa caminhada. Nossa marcha é sempre à frente, e a cada novo passo aglutinamos pensamentos e sentimentos. Nossos ideais aqui serão compartilhados, por todos e a todos. E eis que um novo começo se inicia. Sejam bem vindos!
D.