Abri mão da verba indenizatória. Tinha direito a mais de um telefone celular e fiquei apenas com o meu. Dispenso carro oficial. Devolvi o dinheiro das horas extras pagas no recesso aos funcionários de meu gabinete. Fui o primeiro a dizer que o presidente do Senado, José Sarney, não precisa sobreviver à atual crise, mas a instituição sim, porque é fundamental à Democracia brasileira.
Isso tudo fere interesses. Agir assim, de peito aberto, atraiu a ira de bandidos, acostumados a lidar com a coisa pública como extensão de suas vidas privadas.
Montaram uma máquina contra mim. É um tal de conversar enquanto falo e uma explícita tentativa de esvaziar de apartes os meus discursos.
Comigo isso não funciona. Continuo dizendo tudo o que precisa ser dito. Obriguei senador a me apartear. Fiz até que o plenário do Senado funcionasse numa segunda-feira, com o presidente Sarney presidindo, pela primeira vez em toda longa história dele no parlamento.
Golias não calou Davi.
Sexta-feira fui à tribuna novamente. Cumpri o dever de, diante do escândalo da mansão não-declarada de Sarney - mais um escândalo! -, mostrar que, em se agarrando ao cargo, ele só agrava ainda mais a crise.
O líder do PT, senador Aloísio Mercadante, fez discurso generoso para comigo. Grande parte da bancada do PT o aparteou, solidarizando-se contra a campanha de maledicências com que me atacam. Um deles até disse que tem funcionário fazendo especialização no exterior, como tive, mas ninguém notou, justamente porque o objetivo é atacar aquele que ousou defender com bravura a instituição. A rigidez moral deste Senador, no entanto, me leva a vender patrimônio e devolver à Casa tudo o que foi gasto durante o período de estudos de meu funcionário. Não segurarão meu pulso por aí.
E atacaram minha mãe.
Tenho imensa dor pela perda dela. Sofro, quando recordo. O tratamento médico contra o Alzheimer que o Senado pagou para ela, porém, se deveu à dependência de meu pai, o Senador Arthur Virgílio Filho. Todas as contas foram auditadas, conferidas e respaldadas. Nada a ver com meu mandato.
Meus 30 anos de vida pública não estão à disposição de dois ou três meliantes. A mim, eles não intimidam. Podem intimidar segundos, terceiros ou quartos. Eu não! Eu tenho nas veias, biológicas e culturais, o sangue de Ajuricaba.
Estou na luta para que o presidente Sarney deixe a Presidência do Senado. Não é possível que um poder dessa importância suporte o comando de um homem que precisa se explicar diariamente e tenha confronto cotidiano com o aparentemente inesgotável arsenal de percalços inexplicáveis que envolvem sua vida pública.
Estou reconfortado pelas ruas. Quinta, em um restaurante de Brasília, quase não consigo jantar, diante de tantas pessoas que me cumprimentaram. Em Manaus, sexta, foi a mesma coisa.
O povo entende minha luta. Mas bandidos não mandam flores. Nem eu, para eles.
Arthur Virgílio Neto.
domingo, 5 de julho de 2009
"Bandidos não mandam flores"
por Arthur Virgílio
Postado por
Daniel Santana
às
01:04
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1 comentário
Já li. Vou ler. E volto a escrever.
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