por Mario Santana
O Amazonas é, seguramente, um dos estados que menos desmata, dentre os que compõem a Amazônia Legal brasileira. Uma conjuntura de fatores e ações como a atuação extraordinariamente positiva do Pólo Industrial de Manaus, o difícil acesso à região, dificultando a ação destruidora de madeireiros, pecuaristas e sojeiros, e a instabilidade dos preços dos commodities (carne, soja), de uma certa maneira estão concorrendo para a preservação do bioma amazônico.
Deve-se ressaltar, porém, que a Zona Franca de Manaus, atual PIM, foi obra rara da ditadura militar dos anos 60, o acesso à região é obra da natureza e o preço dos commodities é determinado pelo comportamento do comercio mundial. Portanto, não há atuação peremptória de governante algum - pós-golpe militar - tanto no âmbito federal quanto no estadual, que tenha sido determinante para a salvaguarda da floresta amazônica. O certo é que, pelo seu próprio desenvolvimento econômico lançando borrifos de melhoria no desenvolvimento social do povo amazonense, a Zona Franca de Manaus nasceu para ficar. Essa pseudo luta que alguns políticos amazonenses alardeiam que promovem em favor da Instituição, é conversa de época de eleição. Pois quando o governo federal quer, a Zona Franca é penalizada.
Um episódio vem sempre à baila, quando o assunto é preservação ambiental. Os governantes de plantão continuamente ostentam que lograram preservar 98% da floresta no estado do Amazonas. Segundo o Inpe, em 1997 o Amazonas estaria com 1.452.860 km² de floresta original preservada, o que corresponderia a 98,09% e àquela época só perdia para o Amapá com 98,39%. Essa informação vem sendo repetida por cerca de 12 anos. Até os dias de hoje a versão do governo do estado do Amazonas continua a mesma. Permanecemos com, somente, 2% de floresta desmatada.
Dados do IBGE revelam que o Amazonas perdeu em torno de 7.573 km² somente entre 2000 e 2008. Nós que vivemos em Manaus, sabemos por intermédio da imprensa local e nacional, da devastação que vem acontecendo no sul do Amazonas. Humaitá, Lábrea, Manicoré e Apuí têm seus problemas com desmatamento, incêndios criminosos e disputas de terras.
Por que então, esse comportamento hipócrita tentando passar a informação de que o governo do estado e seus aliados na corte preocupam-se com a preservação do meio ambiente amazônico? Como eles podem defender a tese de desenvolvimento sustentável, usando de todos os meios lícitos ou não, para rasgar uma das partes mais preservadas desse bioma e colocá-la a mercê dos devastadores? Pois que ninguém se iluda, a pavimentação da BR-319 não é fruto de desejos desenvolvimentistas visando o bem-estar do povo, mas sim, de pretensões eleitoreiras, cupidez financeira, ignorância etnogeográfica e subserviência ao poder central.
Qualquer que seja o motivo dessa, como direi, bazófia oficial, o povo que os elegeu não merece ser tratado como idiota, levando-se em conta a importância da informação, que afeta diretamente e em uma instância superior, a preservação da vida em nosso planeta. Por que então não passar para o público o dado correto, sem manipulações irresponsáveis de quem deveria estar protegendo e não tentando destruir o nosso bioma?
Esse factóide dos 2%, ou é um caso para o Guiness Book, ou é um fenômeno matemático ou é uma deslavada mentira que capadócios da administração estadual pensam que estão induzindo a nós, os crédulos, a engolirmos o que já se tornou uma lenda urbana.
Pode também - pois estamos no país dos despachos secretos - ter sido aprovado em nosso estado a instituição dos ”2% Pétreos”, um dispositivo constitucional imutável, que não pode ser alterado nem mesmo através de emenda constitucional. Quem sabe? Muito menos eu!
quinta-feira, 16 de julho de 2009
"O enigmático caso dos 2%"
Postado por
Daniel Santana
às
15:11
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