segunda-feira, 8 de junho de 2009

O novo tom do PSDB: convergência

Se há um jogo que nunca pára é justamente o político. O tabuleiro político está sempre em pleno movimento. Os jogadores observam, calculam, refazem estratégias, movem peças, tudo em busca de uma melhor posição junto ao poder, e com eleições a cada dois anos, não se enganem, é preciso jogar. É necessário jogar, pois, o preço pago por quem não joga é o ostracismo, é o esquecimento e o fracasso.

Desdobrando a máxima nietzschiana de que se você não está agindo, estão agindo por você, ou seja, se você não tá batendo, tá apanhando, vimos nessas últimas semanas quem vem jogando, quem deu as cartas e quem pegou uma boa mão nessa rodada, quem dominou o cenário político em maio.

A avaliação positiva do presidente Lula e o crescimento de Dilma em intenção de votos, são os referenciais políticos a moverem as peças do jogo. O PT não está pra brincadeira. Na periferia dessas pesquisas aparece, o que me chamou àtenção para os eventos subsequentes à divulgação, o pífio resultado de Aécio mostrado em um dos cenários propostos. Em cenário com ele sendo o candidato tucano à presidência, e com a presença de Ciro Gomes, Aécio ficaria nada mais nada menos que em quarto lugar na corrida presidêncial. Ficaria até mesmo atrás de Heloísa Helena, o que convenhamos seria pra fechar a casa. Pára tudo!

Aécio, prontamente, mostrou novo posicionamento e um discurso até então não dito pelo PSDB. Em entrevista à TV Brasil, semana passada, o Governador mineiro mostrou-se realista quanto a Serra ser o candidato "hoje com mais probabilidades" de ser indicado pelo seu partido, porém defendeu as prévias como modo de escolha.

A grande novidade foi quando perguntado sobre o cenário atual de pré-camapanha. Disse o tucano mineiro que "Dilma garantirá uma disputa de alto nível" pois, "ela é uma candidata à altura da democracia brasileira", numa clara tentativa de alimentar a divisão petista quanto à candidatura da ministra. Ainda afirmou que, aí vem o x da questão, seria um erro do PSDB apostar numa tentativa de "desconstrução" da imagem do presidente Lula, num tom estritamente de convergência, o mesmo utilizado pelo PT na campanha presidencial de 2002, em relação à política econômica do então governo FHC. Ainda em tom de convergência, Aécio fez elogios à atual política do governo, dizendo que o Governo Lula será lembrado pela história como o processo contínuo do Governo FHC pois, "foi lá que se iniciaram os programas de geração de renda. Veio o Governo Lula e, responsavelmente, manteve os parâmetros macroeconômicos e avançou nos programas sociais". Porém, criticou o modelo de gestão petista afirmando que "o governo virou às costas pra gestão, e passou a confiar na popularidade do governo Lula".

A verdade é que o discurso tucano precisa se renovar, recriar-se. E, recriar-se para além de momentos eleitoreiros. A soberba da verdade, do suposto saber, típico dos iluminados, já não cabe em uma conjuntura social de múltiplas linguagens. A diversidade de discursos e recortes sociais implica em constante reconstrução de si mesmo, quer sejamos indivíduos ou associações. O que vimos nesses últimos oito anos foi justamente o resultado dessa multiplicidade e diversificação: desde a eleição de um Lula, que é prova viva de como se reinventar constantemente, um verdadeiro monstro político, à metabolização de uma bandeira partidária de vinte anos de PT, que trocou a ética e o T de trabalhadores, pelo T de trambique e tramóia.

Na simples tentativa de se manter vivo no tabuleiro eleitoral Aécio, mesmo sem saber, talvez tenha prestado importante contribuição à história política brasileira. Apontou uma fissura no discurso [tucano]. Em termos clínicos diríamos mesmo que ele pontuou o discurso do outro, fez sacudir o analisando (vulgo paciente) de sua posição de conforto, deslocou seu olhar ao vazio do ser. Numa situação dessas é sabido que, ou o analisando [se] reconhece [na] a pontuação, ou nega! e escolhe permanecer preso ao sintoma - e cai novamente no circuito de gozo.

Esse seu simples ato pode ter como consequência o despertar do PSDB a um outro momento de sua história. E quem ganha com isso somos todos, é o Brasil. Veremos então, o que desse divã sairá e como ficará o tabuleiro pois, eis que ele se move, sempre!

Abraços,
D.

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