terça-feira, 26 de maio de 2009

Manaus COPA 2014. Soy contra!

Domingo próximo, dia 31, a FIFA escolhe as 12 subsedes brasileiras na Copa de 2014. Nossa querida capital baré concorre com Belém ao posto de subsede da Região Norte e em torno dessa questão inúmeros debates já se arrastam entre amazonenses e paraenses.

Um vez já decidido pela FIFA que a Copa será mesmo no Brasil, e com uma subsede no Norte, Inês é morta, não dá mais pra empurrar esse pepino pro Suriname, Guiana ou Venezuela. Resta-nos agora contabilizar os mortos e ver quem vai carregar os corpos: Manaus ou Belém.

Sobre a escolha em si, vejamos o seguinte: se o “critério técnico” fosse preponderante não se justificaria uma copa na África do Sul, nem mesmo a dobradinha Japão/Coréia como em 2002. Como não o é, concluimos que até mesmo Cucuí, no extremo norte amazonense poderia ser subsede da Copa em 2014. Imaginem uma Copa em Cucuí! Seria uma maravilha.

Se fosse “infra-instrutura”, Manaus e Belém nem deveriam concorrer. As duas cidades são assim, quase um primeiro mundo! em transporte coletivo, saúde, educação, segurança, hotelaria, etc. Em Manaus, por exemplo, já temos funcionando o “Metrô de superfície” e a “Nova Veneza” do ex-prefeito e atual sinistro da soja e dos transportes Alfredo Nascimento.

Estado por Estado, o concorrente Pará é claramente campeão em desmatamento da floresta amazônica e campeão de violência rural com suas grilagens e embates por terra, sua capital é notadamente conhecida pela violência urbana e sujeira. Já no Amazonas, é a festa que conhecemos de perto: governo corrupto, crime organizado, prefeito cassado, ministro processado, etc. Esta disputa me parece muito com o pleito 2008, eleições à Prefeitura de Manaus: três péssimas alternativas. Assim, entre Manaus e Belém, melhor seria nenhuma das duas, mas...

Ora, por apelo social, temos que a população das duas cidades, obviamente quer a Copa, afinal não é toda vez na vida que se tem a oportunidade de presenciar, assistir de perto a um clássico entre Burkina Fasso vs Papua-Nova Guiné, ou a um espetacular jogo de primeira fase entre Ilhas Faroe vs Trinidad e Tobago.

Lembremos, e isto é fato, que a Copa do Mundo de Futebol é disputada em 8 grupos de 4 times, portanto 8 cidades são o suficiente para acomodar o evento. Normalmente, vinha-se fazendo com 8 a 9 cidades, a exceção da Copa Japão/Korea (20 cidades) e da Alemanha (12 cidades). Ora, em 2002, justificava-se o uso de 20 cidades afinal o evento era em dois países. Já em 2006, na Alemanha, nem é preciso comentar o tamanho em extensão daquele país. Em um espirro você o cruza de trem norte a sul, leste a oeste.

Acontece, e isso também é fato, que em se tratando de 12, repito 12 cidades, nossa querida subsede do Norte (Manaus ou Belém) acomodará 3 ou, se muito, 4 partidas. Isto é fato! E partidas daquelas, do mais alto nível técnico como já mencionei, algo do tipo: Chipre vs Ilhas Maldívas. Agora imagine você, vooocê aí mesmo! gastando 1200 reais pra assistir de arquibancada, um clássico como esses! Lindo, não?!

Pois bem, comentários à parte entro na questão em si! O fato é que a escolha é POLÍTICA, e obviamente ECONÔMICA.

Um evento como esses consome bilhões e bilhões de dólares. A Alemanha, por exemplo, gastou 12 bilhões de dólares para sediar a Copa de 2006 – 0,34% do seu PIB daquele ano. Aqui em terras tupiniquins, o Pan RIO 2007 custou 3,7 bilhões de reais.

Em Carta Capital (ano XV, no 535) ao final de 2007, o Diretor Financeiro do Comite Organizador da Copa 2014, Carlos Langoni, apresentou orçamento preliminar de custos da Copa na casa dos 6 bilhões de dólares, pouco mais de 12 bilhões de reais.

Já segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas (dados divulgados em janeiro 2009), a Copa 2014 está com orçamento em torno de 35 bilhões de reais, sendo este valor somente no quesito “gastos públicos”. Porém, em estudo oficial, para auxiliar as cidades candidatas, conforme Termo de Cooperação assinado entre CBF e Ministérios dos Esportes, a Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústria de Base (Abdib), elaborou estudo de infraestrutura nas cidades candidatas e estimou um valor de 100 bilhões de reais, somente em infraestrutura, ou seja, sem contar estádios, como custo para a Copa 2014 (reportagem Carta Capital, ano XV, no 535).

Sobriamente, à luz da razão, já nos caberiam inúmeras perguntas sobre a realização da Copa. Com esse desencontro de números, estudos e orçamentos - em pouco mais de um ano, o orçamento, a partir de três estudos diferentes, já subiu de 12 para 100 bilhões de reais - então nos cabe perguntar a quem interessa um evento como esses? A que grupos interessam a Copa? Quem lucraria com isso? E trazendo essas indagações pra cá, a quem interessa a Copa em Manaus? Quais grupos, ou quem lucrará com essa epopéia? O manauara que pagará em média 500 dólares para assistir Burkina Fasso vs Papua Nova Guiné? Certamente não!

Há quem diga, porém, movido a romantismo ou ingenuidade, ou ainda por pura ignorância, que um evento desse porte traria resultados a cidade como um todo, em infra-estrutura e qualidade de vida. Agora, infra-estrutura e qualidade de vida a que preço? E qual é a infra-estrutura que vale 6 bilhões de reais (valor orçado pelo Governo do Estado para a Copa 2014 em Manaus)?

Estes generosos six billions, lembro que é o orçamento inicial, e se levarmos em conta a cultura do brasileiro, um sujeito altamente planejador, técnico, eficaz e sobretudo, honesto quanto ao dinheiro público, certamente este valor será maior. O caso dos Jogos Pan-americanos RIO 2007 é exemplar. No Pan do Rio o evento todo foi orçado em 412 milhões de reais. O custo final foi de 3,7 billhões! Nove vezes o valor inicial e com o Governo Federal entrando em socorro no aditivo orçamentário para garantir a realização do jogos.

A esta simples análise de gastos e orçamentos (furados) agrava-se o fato da dispensa de licitação para serviços já realizados em nome da COPA 2014, como os de publicidade e projetos para candidatura de cidades sedes. A Edição dominical de A Folha de São Paulo, de 18 de janeiro deste ano, em matéria assinada pelos jornalistas Felipe Bächtold e Matheus Pichonelli, da Agência Folha, publica o que chamou de a ”farra do milhão”. Trabalhos, executados sem licitação, por empresas privadas de consultoria e projetos foram realizados pelos governos estaduais em cidades como Manaus, Salvador, Rio Branco, Cuiabá, Belém, Goiânia e Natal. Duas multinacionais de consultoria, Price Waterhouse e Deloitte (esta última contratada pelo Governo do Amazonas), embolsaram juntas mais de 5 milhões de reais. Os governos, lembro, dispensaram licitação.

A verdade é que o Brasil não está preparado pra um evento deste porte. Nem seu povo, nem seus dirigentes esportivos, muito menos seus políticos! Falta-nos cultura e seriedade! Falta-nos respeito ao bem público! A Copa não será dos brasileiros. Não será da dona Maria, do Seu João, do Pedro, do Zeca, do Francisco, etc. Mas a conta sim! Enquanto houver “Mensalão”, “Obras Fantasmas no Alto Solimões”, Crime Organizado em Coari”, “Escândalo das Passagens aéreas”, “Verba Indenizatória”, “PTbrás”, etc. o Brasil não pode se dar ao luxo de Copas e Olimpíadas.

Enfim, uma Copa no Brasil é um luxo num país de favelados! É uma afronta aos desabrigados! É desrespeito aos que passam fome! É um desrespeito às viúvas de policiais mortos em combate ao tráfico! É um crime contra as crianças cardiopatas sem tratamento! É crime às crianças sem escola! É crime contra aos que nem nasceram! Sim, palavra melhor não me vem à mente: CRIME. Uma Copa no Brasil é, decerto, um crime!

E nem vou comentar sobre a escolha de um Paulo Coelho como “o ícone cultural brasileiro”.

Se hay corrupción, soy contra !
Abraços.
D.

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