terça-feira, 26 de maio de 2009

Mãe de Rafael procura Governador

A vida é um grande teatro em que nós representamos a nós mesmos. Papéis sociais se acumulam em nosso camarim e a toda sorte nos desdobramos para bem representá-los. Somos sempre “bons filhos”, “bons pais”, “boas esposas” etc. Quem nunca ouviu a famosa frase “mas ele era uma pessoa de bem”? Sim, um papel social bem representado atinge não só a nós mesmos mas, sobretudo à sociedade, afinal este é o objetivo, visto que nos constituímos a partir do olhar do outro.

Porém, não somos tão bons atores assim! Sempre surge algum imprevisto, algo fora do script, que requer a sempre bem vinda capacidade do improviso, e aí nem todos dispõem de tanta habilidade. Nossa capacidade de representar tem um limite, social e, sobretudo, pessoal. É um fardo às vezes muito pesado para pessoas comuns, a maioria de nós, que representa inconscientemente, sem dolo. Há entretanto, quem represente de forma dolosa, é claro! no que seria a representação da representação. Mas isso é outro assunto.

Nesses momentos, de fissura do roteiro, é que vemos quem é quem. É aí que cai o véu, cai a máscara. A representação não sustenta mais o inconsciente e nos deparamos com o fenômeno do real, cru à nossa frente. Nenhum de nós suporta um encontro consigo mesmo, nem por um segundo sequer - daí a farta oferta de mecanismos de alienação que a cultura de massa nos oferece.

O fato é que Rafael Souza, filho do Deputado Estadual Wallace Souza, continua preso. As acusações são tão graves, inclusive envolvendo o Deputado Wallace, que já se cogita sua transferência a um presídio de segurança máxima no Paraná.

Sem saber que isto pode salvar a vida de Rafael, sua Mãe, em um ato de desespero, daqueles em que cai o véu e o real se mostra com todo seu vigor, procurou o Governador do Amazonas, senhor Eduardo Braga, para que este interviesse na questão. Noticiário local informa que ela chegou até mesmo a perseguir o carro do Governador na tentativa de forçar um encontro.

Esta senhora não suportou o seu real, não suportou o momento em que o script lhe faltou, não deu conta de sua própria representação. O véu caiu, a máscara já não lhe serve mais. A saída encontrada foi a mesma que todos fazemos uso, o DELÍRIO. Ora, bem sabemos que o delírio é construtivo, é algo até mesmo bem vindo pra reconstituir o sujeito. Mas em um mundo em que o papel social é imperativo, a representação sempre falará mais alto, e a todos sempre será preferido não encarar suas próprias falhas, e seus fantasmas.

O problema é que em seu delírio ela acaba implicando outros que a cercam, e a sua simples ida ao Governador pode-nos indicar muito mais que palavras.

Abraços.
D.

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