por Arthur VirgílioConstruí minha história na política. Nasci político. Por meu tio-avô, Senador Severiano Nunes, e meu avô, o Desembargador Arthur Virgílio, além de meu pai, o Senador Arthur Virgílio Filho, comecei até mesmo antes de nascer. É daí que vem a convicção extremada de minha luta em defesa da instituição Senado Federal.
Lutar é minha rotina. Otimizar e expandir a representatividade de meu mandato tem sido meu dia-a-dia. As prerrogativas de minha cadeira têm sido usadas exaustivamente para defender minha Pátria e meu Estado. Pecar pelo silêncio, quando se deveria protestar, transforma homens em covardes, como repetia Abraham Lincoln, e por isso não permito que ninguém me silencie.
O presidente do Conselho de Ética do Senado, contra todo e qualquer traço de razão, tenta arquivar as representações de meu partido, o PSDB, e do PSOL, além das denúncias minhas e do senador Cristovam Buarque, contra o presidente José Sarney e o líder do PMDB na Casa, Renan Calheiros.
Não pára por aí. Semana que vem eles devem me presentear com o laurel de ter a representação contra mim como única a ter aceitação e continuidade naquele conselho.
O denunciante vira denunciado. O político pobre que é o primeiro a reconhecer um erro – permitir que um funcionário fizesse curso no exterior – e a oferecer devolução pecuniária do próprio bolso para corrigi-lo vira réu, enquanto os que construíram fortunas na carreira política e colecionam acusações que os colocam do pior lado da política brasileira são absolvidos.
É claro que isso não ficará assim. Recorreremos ao pleno do próprio Conselho de Ética e, se não for suficiente, iremos ao plenário auscultar o coração do Senado.
Faço minha parte. Mantenho meu posto. Não houvesse a convicção firmada no passado de minha família, as manifestações que tenho recebido me bastariam. São milhares de mensagens na minha caixa de correio eletrônico, todos os dias. “Quando o senhor segurou o copo d’água e tomou, na tribuna, mostrou o equilíbrio e a segurança que se exigem dos homens públicos”; “Não voto no Amazonas, mas os amazonenses devem estar cheios de orgulho por terem sido seus eleitores”; “Não conheço outro político com a coragem do senhor”; “Fique firme na luta, o Brasil conta com isso”. E por aí vai.
Nas ruas, por onde ando, recebo cumprimentos. O ex-presidente Fernando Henrique ligou-me para dizer que há tempos não assistia a uma onda de solidariedade como a que se instalou em torno de minha atuação.
Indagam-me: “Por que mudou o tom dos seus discursos?” Porque agora é hora de mais serenidade. Firmeza sim, mas no tom certo para imobilizar a tropa de choque do presidente Sarney nas poltronas e fazê-la ouvir a voz da consciência da Nação.
A credibilidade do Senado está em jogo. Isso vale mais que qualquer mandato. E quando a maioria silenciosa do plenário tiver a chance de se pronunciar, Sarney e Renan cairão em si quanto ao grosseiro erro que cometeram, ao fechar os olhos para as vozes da imprensa e das ruas.
Estou calmo. Firme como uma rocha. Orgulhoso dos brasileiros, especialmente os do Amazonas, pelo apoio candente que me prestam. Vamos vencer.
sábado, 8 de agosto de 2009
+ / - |
"Obrigado" |
terça-feira, 4 de agosto de 2009
+ / - |
Do Olhar ao Desejo |
"Quem olha deseja". Através deste dito, que se dá como uma constatação, inicio análise sobre o olhar e o desejo, utilizando como fundo a linguagem lacaniana e alguns conceitos básicos em psicanálise. A análise do olhar aqui apresentada volta-se particularmente a questão da presença do Outro, enquanto ser a quem recorremos para nos fazermos existir, e de que forma nos fazemos presentes nesse Outro, vinculando sempre este olhar ao desejo.
O olhar deve ser visto como a forma mais original com a qual percebemos o mundo, é através dele que buscamos o mundo e as pessoas, e também é através dele que nos revelamos aos outros. Quando olhamos alguém nos damos a esse alguém que olhamos pela reciprocidade do nosso olhar, pois olhar implica retorno, reconhecimento. Olhar é também ser atingido pelo outro, "olhar é ser-visto", uma vez que o sujeito se constitui primeiramente através do olhar, um olhar direcionado a um outro. Ao olhar alguém identificamos nesse alguém algo, algo que nos faz existir, que nos constitui enquanto ser. Assim, pode-se afirmar que todo olhar tem uma intencionalidade, a de constituição do sujeito a partir do que se olha. Todo olhar visa algo e a uma descoberta, e assim, criamos uma relaçào com quem se está olhando, uma relação de busca-de-si através do outro, nesse jogo do olhar.
Essa busca, que não é um procurar qualquer, nem é preciso falar que se dá pela falta, pela suspensão de algo originário retirado do sujeito quando este fôra deslocado do desejo da mãe, através da intervenção paterna. Essa castração simbólica ao deslocar o falo ao lugar do Outro, duplica a marca da falta neste lugar destinado a esse Outro, instituindo posteriormente através da linguagem um objeto a suprir esta falta, um "objeto faltante", um "objeto" causa do desejo. Então, percebe-se que o desejo surge para o sujeito no momento em que este objeto causa de seu desejo passa a lhe faltar. É aí que surge a questão do olhar.
É pelo olhar que primeiramente buscamos esse algo que nos falta, esse "objeto faltante", é pelo olhar que tentamos apreender o mundo no intuito de suprir essa falta. Porém essa falta, que é causa inconsciente do desejo, é também condição fundamental do ser, sendo que por isso o desejo não se pode satisfazer, não cessa, apenas se desloca. Então, continuamos sempre a olhar, sempre em busca, e sem preceber quando olhamos alguém estamos (re)construindo uma relação para suprir essa falta.
Quando direciono o olhar a alguém, na verdade, não só passo a olhar esse alguém mas, sobretudo, ESCOLHO esse alguém a quem olho. Não só por identificá-lo a meu objeto faltante, como também por me fazer ser-visto por esse alguém, de modo que a imagem refletida por esse outro me faça reconhecer-me em mim mesmo. A unicidade do sujeito depende da imagem que me é ofertada por esse Outro. Depende dessa relação de (re)conhecimento por esse Outro, e é me alienando na imagem desse Outro, a partir de uma série de identificações ideais, que posso me reconhecer. É por isso que o enamoradamento sempre se dá por identificação, uma vez que quando olhamos o Outro também somos-vistos por esse outro e nos alienamos em seu desejo, regulando-nos a partir do signo do reconhecimento, identificando nesse outro algo propriamente nosso mas que paradoxalmente nos falta. Assim, quando se manda flores a uma mulher, ou quando esta faz algo similar a um homem, não está se configurando aí, como muitos pensam, uma relação originariamente dual, ainda não. O que está em jogo é uma relação do eu-em-mim com um eu-para-mim, de quem se espera reconhecimento e que por identificação assume o papel do Outro, mas que na verdade é pura efetivação do DESEJO.
Nesse tipo de relação o reconheciemnto vindo desse Outro é o que realmente se espera.
O olhar, esse olhar que é voltado ao Outro, visa apreender esse ser, primeiramente imaginário, que antes chameir de eu-para-mim, pois é nele que encontram-se todas as nossas expectativas de nos constituirmos no mundo e de suprirmos nossa carência original, nossa falta, fazendo dele assim, um objeto que colocamos no lugar do "ideal-do-eu". É que por consequencia disso que se vive em razão de seu reconhecimento, visto que é por esse olhar do Outro que eu me reconheço.
Só que, este investimento libidinal do "eu ideal" para com a imagem projetada no Outro, naquele outro lugar, é incompleto. Parte da libido permanece ligada a unidade do eu originário, caracterizando assim , na experiência amorosa, a falta à imagem amada, projetada no Outro. É então que o objeto amado dá-se a partir dessa falta, e o objeto causa do desejo responderá justamente a esse lugar, a essa falta. Sendo porém que como o desejo não cessa, é deslocamento constante, o objeto causa de desejo - objeto tido como o objeto do Amor - não se dá a apreender. Logo, o Amor é uma espécie de vazio constante, uma inscrição de algo volátil em um lugar da falta - mesmo que muitos ainda acreditem e creditem suas vidas na existência de tal sentimento.
Vê-se então que o olhar nada mais é do que a "superfície do desejo", como diria Sartre, pois que "é pelo olhar que o desejo se manisfesta".
Utilizando uma linguagem mais simples, pode-se dizer que nós nos buscamos através do outro, mesmo que para isso seja preciso entrar numa questão de ordem narcísica como dado estrutural do sujeito, pois sabe-se que o sujeito se constitui a partir da relação com sua própria imagem. Talvez sendo por isso que "a escolha do objeto seja sempre uma escolha do objeto narcísico".
O olhar não deve ser entendido como simples aparição banal das coisas no campo de nossa percepção visual, pois acima de tudo olhar é também ser visto.
Observamos que o conteúdo aqui analisado é, se muito, apenas de caráter elementar sobre algo que já foi há muito dito em psicanálise mas, o que está valendo é a tentativa de (re)lembrar às pessoas o significado que tem o olhar, e como ele se liga ao desejo.* artigo originalmente publicado no periódico ISSO FALA, dos alunos do curso de Psicologia da UFAM, em julho de 2003.